Quando vender uma ação?

A venda de uma ação é um grande dilema para o investidor. Em nossa opinião, trata-se de uma decisão complexa pois ela envolve a estratégia de investimentos, a experiência de mercado do investidor, dentre outras variáveis. Isso contrasta com a facilidade operacional da venda através do home broker, a qual pode ser realizada em alguns poucos cliques. A partir da nossa experiência e conhecimento refletiremos acerca do problema sobre quando vender uma ação. Boa leitura.           

Perda dos fundamentos

No mercado de ações quando estudamos os fundamentos de uma empresa procuramos compreendê-la da maneira mais abrangente possível. Ou seja, consideramos o setor de atuação da companhia, a sua governança, saúde financeira, projeção de dividendos, além de outros fatores importantes. 

Desse modo, um primeiro elemento que julgamos importante sobre quando vender uma ação decorre justamente da perda dos fundamentos de uma empresa. Portanto, se há uma deterioração em pelo menos um dos fatores que sustentam a estrutura ou o setor de atuação da empresa, isso pode torná-la elegível para venda. Veja a seguir alguns exemplos de empresas que em nossa opinião perderam seus fundamentos.

Lojas Americanas (em 2023 a empresa relatou uma fraude contábil, alto endividamento e entrou em recuperação judicial), Grupo Casas Bahia (a companhia apresenta sucessivos prejuízos desde 2021, alto endividamento e em 2023 fez um grupamento de ações pois os seus papeis estavam sendo negociados abaixo de 1 real), Companhia Aérea Gol (no início de 2024 a companhia entrou em recuperação judicial) e Petrobras (a companhia apresenta um alto risco de governança). 

A propósito, já fui acionista do Grupo Casas Bahia e da Petrobras. No entanto, vendi ambas companhias pois interpretei que era evidente a perda dos fundamentos.  

Na análise fundamentalista nem tudo pode ser mensurado, apesar da importância dos gráficos e tabelas.

Erro de análise

Não é raro os investidores comprarem um ativo simplesmente pelo fato dele estar na moda. É comum a emoção se sobrepor à razão. Analistas recomendando e amigos comentando: o investidor não quer ficar de fora da “festa”. Porém, nenhuma festa dura para sempre. A euforia termina e no final o investidor conclui que ficou com um verdadeiro “abacaxi” em suas mãos. Eu mesmo já vivenciei esse tipo de experiência diversas vezes e pude concluir que cometi muitos erros de análise. 

Portanto, a minha empolgação em adquirir uma determinada ação fez com que eu fosse descuidado na minha análise e até mesmo não pude ver o óbvio: a empresa estava totalmente desalinhada com a estratégia de dividendos. No meu caso, foram necessárias algumas repetições para que eu pudesse de fato compreender a lição, assim como o estudante precisa errar algumas vezes até pegar o jeito da coisa. O erro não deliberado é extremamente valioso para a aprendizagem.    

A seguir apresento algumas das minhas vendas com base nos meus erros de análise: Grupo Notredame Intermédica, Cogna, Natura, Casas Bahia, Trisul, Totvs, Weg, Embraer, CCR, Ambev, Ultrapar, B3, Banrisul e AES Brasil. Os lucros obtidos na venda de parte desses ativos foram modestos e alguns dos prejuízos foram bastante expressivos e dolorosos para o meu ego. O saldo final dessa experiência é que a minha mentalidade de investidor foi fortalecida, embora do ponto de vista operacional eu tenha tido um péssimo desempenho. Se o preço do aprendizado às vezes é alto, eu não tenho dúvidas que o preço da ignorância é bem maior. 

Eu vendi diversas empresas excelentes e que possuem uma reputação perante o mercado. Porém, praticamente todas elas foram superestimadas por mim e no final cheguei a conclusão que todas estavam desalinhadas à minha estratégia de dividendos. Se você precisa realizar prejuízo por um erro de análise, então, não fique procrastinando e torcendo para a ação subir e vendê-la no “zero a zero”. Isso é ilusão, perda de tempo e energia.           

Realocação de capital

No intuito de refletir sobre quando vender uma ação o investidor deve também ponderar sobre a possível realocação de capital. Com base na minha experiência, cheguei à seguinte conclusão: seja fiel à sua estratégia de investimentos e não necessariamente às empresas. O apego emocional às companhias pode ser muito mais prejudicial do que benéfico. O mercado de ações é extremamente acessível, flexível e democrático. É muito mais simples vender uma ação do que um imóvel ou um negócio físico. 

O investidor focado no recebimento de dividendos não pode supor que a renda passiva depende de uma postura passiva. Acreditamos exatamente no contrário, ou seja, é preciso ser um investidor ativo para que isso possa se traduzir no crescimento de dividendos. Isso se assemelha à postura do proprietário de um apartamento para aluguel que não cuida do imóvel e não está atento ao desenvolvimento social, econômico e imobiliário da região. Em breve ele poderá se deparar com a decadência do bairro, a desvalorização do ativo e a dificuldade em vender ou alugá-lo. 

Devido aos ciclos econômicos, diversos setores e empresas vivenciam períodos de prosperidade e recessão. Isso impacta diretamente a lucratividade e a projeção de dividendos das companhias. Embora as empresas dos setores perenes estejam mais blindadas aos períodos de recessão, elas também sofrem. Veja, não estamos defendendo que o investidor fique comprando e vendendo ativos freneticamente, mas sim que ele estude continuamente os fundamentos das empresas e esteja com a mente aberta para revisitar a sua tese de investimentos em um determinado ativo. 

Eu já vendi alguns ativos no intuito de obter capital para comprar papeis que apresentavam fundamentos melhores e projeções mais sólidas quanto à distribuição de dividendos. Por exemplo, vendi ações das Casas Bahia, Trisul, Banrisul, CCR, Vibra Energia, Copel, JBS, dentre outras companhias, para adquirir ações do Banco do Brasil, BB Seguridade, Taesa e Bradespar.             

Referências

investidor10.com.br

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