Ibovespa aos 136k e a economia brasileira
O preço de uma ação tende a refletir a perspectiva futura do desempenho de uma empresa quando trazido a valor presente. Porém, a bolsa não vive apenas de projeções, pois ela está vinculada à economia real. As empresas produzem bens e serviços todos os dias. Assim, os acontecimentos presentes importam. Nesse emaranhado de relações entre o presente e o futuro, observamos que o desempenho da economia interfere diretamente nas perspectivas sobre os rumos de uma companhia e, portanto, no preço de uma ação. Fique conosco até o final do texto pois pretendemos elucidar alguns elementos importantes que relacionam o Ibovespa aos 136k e a economia brasileira.
Boa leitura.
Ibovespa aos 136k
A bolsa voltou a ficar positiva em agosto. Ou seja, nos sete primeiros meses de 2024 o Ibovespa – principal índice da bolsa – estava desvalorizado se comparado a sua abertura no 1º pregão de janeiro. Com efeito, o índice iniciou 2024 aos 134k e agora observamos o Ibovespa aos 136k.
No entanto, apesar da pequena variação percentual (+1,50%) entre o início do ano e o fechamento do dia 4 de setembro de 2024 (quarta-feira), salientamos que a trajetória da bolsa teve seus altos e baixos e a variabilidade do índice foi acentuada: a diferença entre a máxima (137,5k) e a mínima (118,7k) do ano corresponde a 18,8k, ou seja, uma variação de 15,84% sobre a mínima do ano.
Embora a economia brasileira esteja pujante desde o início do ano, destacamos o fato que por um longo período o investidor estrangeiro retirou um grande volume de capital da bolsa, possivelmente apostando na alta no juro americano e queda no juro brasileiro.
Porém, as projeções atuais consideram exatamente o cenário oposto: queda do juro americano (devido à retração do mercado de trabalho americano e arrefecimento da inflação) e alta do juro brasileiro (em virtude do superaquecimento da economia brasileira, deterioração das contas públicas e viés de alta para a inflação). O retorno do capital estrangeiro tem contribuído decisivamente para a alta da bolsa, não apenas pela possibilidade de ganho no diferencial de juros, mas também pela perspectiva de desaceleração da economia americana e crescimento da economia brasileira.
Economia brasileira
Se os ventos vindos de fora são favoráveis para a melhora do Ibovespa, vejamos agora a situação da economia brasileira. Confira a seguir alguns indicadores:
1) Produto Interno Bruto (PIB) do 2º trimestre de 2024: 2,9 trilhões de reais (+6,4% vs. 1T24 e +6,9% vs. 2T23);
2) Taxa de desemprego do 2º trimestre de 2024: 6,9% (-12,7% vs. 1T24 e -13,75% vs. 2T23);
3) Inflação oficial (IPCA) acumulada em 12 meses até julho de 2024 atingiu o topo do intervalo estipulado pelo Banco Central do Brasil: 4,50% (a inflação acumulada em 12 meses até maio de 2024 foi de 3,93% e a inflação acumulada em 12 meses até junho de 2024 foi de 4,23%);
4) Taxa básica de juros (Selic): 10,50% ao ano;
5) Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) – engloba os governos federais, estaduais, municipais e o INSS – até o final de julho de 2024: 8,8 trilhões de reais (78,5% do PIB).
De acordo com os valores observados, concluímos que a economia brasileira está superaquecida e praticamente na sua plena capacidade de produção de bens e serviços, apesar dos preços das commodities – principalmente o petróleo e o minério de ferro – em baixa no mercado internacional. Além disso, o mercado de trabalho está apertado e a inflação está em viés de alta.
Embora restritiva, por incrível que pareça, a taxa de juros não está sendo contracionista o suficiente. O rombo das contas públicas é um problema: em vez de reduzir as despesas, o governo prefere aumentar as receitas via aumento de impostos. Porém, o que é repassado para as empresas uma hora chega no consumidor final. Trata-se de um efeito em cadeia. Portanto, o descontrole fiscal em última instância é transferido para o cidadão através do aumento da inflação.
Bons investimentos.