Ibovespa aos 125k e a euforia do mercado
No mês de novembro o Ibovespa tem acumulado uma alta de 10,94%, inclusive superando os 125 mil pontos. Além disso, podemos notar na mídia especializada um discurso amplamente positivo em relação à bolsa. Alguns analistas através de seus modelos matemáticos projetam o Ibov aos 150 mil pontos para o ano de 2024. Mas afinal, em que consiste toda essa euforia do mercado? Neste post, apresentaremos um breve panorama do Ibovespa desde janeiro e compartilharemos o nosso ponto de vista sobre a euforia do mercado.
Ibovespa aos 125k
Desde o início de janeiro, o Ibovespa acumula uma alta de 14,38%. Apesar do excelente desempenho do índice neste ano, precisamos ter uma série de cuidados no que se refere à sua interpretação.
Primeiramente, o fato do Ibov estar performando bem desde o início do ano não significa que a bolsa como um todo esteja apresentando um excelente desempenho. Não se pode confundir a bolsa com o Ibovespa. Por exemplo, a Vale (VALE3) e a Petrobras (PETR3; PETR4) representam juntas aproximadamente 25% do índice. Ou seja, o Ibovespa é extremamente viesado pelo desempenho das ações VALE3, PETR3 e PETR4. Embora VALE3 tenha desvalorizado 10% desde o início do ano, por outro lado, as ações PETR3 e PETR4 valorizaram-se, respectivamente, 69% e 85%.
Em segundo lugar, as oscilações na entrada e saída de capital estrangeiro afetam diretamente a performance do índice. No geral, os investidores estrangeiros preferem as ações mais líquidas. Dado que o Ibov procura contemplar justamente essa categoria de ações, então, é razoável esperarmos que um aumento na entrada de capital estrangeiro tenha como consequência uma elevação no índice, assim como a saída de capital estrangeiro implicará provavelmente uma baixa.
Em terceiro lugar, o fato do Ibovespa ter atingido o patamar dos 125 mil pontos está muito mais relacionado aos resultados operacionais positivos das empresas que possuem maior peso no índice e a queda na taxa Selic do que um excelente desempenho do mercado como um todo e até mesmo a economia brasileira. Não podemos nos esquecer que diversas empresas de setores cíclicos da economia continuam sofrendo com uma alta alavancagem. Além disso, o cenário fiscal brasileiro tem se deteriorado, o que sempre desperta preocupação sobretudo pelo fato de possíveis aumentos de impostos.
A euforia do mercado
De acordo com o exposto na seção anterior, não vemos motivo de euforia por parte dos investidores focados em dividendos, embora as narrativas do mercado estejam caminhando para um otimismo excessivo.
Tendo em vista que a estratégia de dividendos consiste em adquirir ações de boas empresas, situadas em setores perenes da economia, que estejam sendo negociadas a preços razoáveis e que pagam bons dividendos, então, o fato do Ibovespa atingir 100, 125 ou 150 mil pontos é muito menos relevante se comparado ao fato da ação de uma boa empresa pagadora de dividendos possuir margem de segurança ou não. Nós compramos participações em empresas, não o Ibovespa.
Os investidores focados em dividendos precisam estar blindados em relação às narrativas do mercado. Quando a bolsa estava abaixo dos 100 mil pontos, a Selic em 13,75% ao ano e diversas empresas estavam sendo negociadas com um belíssimo desconto, o discurso era extremamente pessimista. Agora que os ativos – em média – estão mais caros, a Selic está em 12,25% ao ano e a bolsa já apresentou uma expressiva valorização, o discurso é de otimismo.
Os ciclos de baixa e de alta da bolsa ocorrem de tempos em tempos. Isso não é novidade para o mercado. Portanto, a estratégia e a racionalidade do investidor devem se sobrepor aos seus sentimentos. Caso contrário, ele será levado pela maré de pessimismo ou de otimismo, conforme as narrativas do mercado.