Grupamento de ações

O grupamento de ações é uma estratégia utilizada pelas empresas para tornar suas ações menos líquidas. Geralmente, ele é proposto pelo conselho de administração das companhias após um longo período de baixa expressiva das ações. Inclusive, a maioria dos papéis a serem agrupados são justamente aqueles que negociam abaixo de 1 real (penny stock). 

As ações negociadas abaixo de 1 real apresentam maior volatilidade e tornam-se mais especulativas. Além disso, tais ativos, após um certo período, podem se tornar inelegíveis para compor a carteira teórica de índices de referência do mercado – por exemplo, o Ibovespa -, o que poderá implicar uma desvalorização ainda maior da ação, bem como uma sinalização negativa para o mercado em relação aos fundamentos da companhia. 

Porém, tal como ocorre no desdobramento de ações, o grupamento de ações precisa ser aprovado pelos acionistas. Apresentaremos um exemplo para ilustrar alguns dos efeitos práticos do grupamento de ações. Adicionalmente, comentaremos dois casos recentes de grupamento.

Exemplo de aplicação

Suponhamos que uma companhia possui 2 bilhões de ações, patrimônio líquido de 5 bilhões de reais e prejuízo líquido (últimos 12 meses) de 2 bilhões de reais. Além disso, consideremos que a base acionária da companhia será reduzida a um décimo (1/10) do que era antes, mediante o grupamento de dez ações em uma. Portanto, após o grupamento, a base acionária da companhia será formada por 200 milhões de ações. Vejamos abaixo alguns dos efeitos práticos do grupamento.

1) Preço do ativo

Se no pregão anterior ao grupamento, a ação fechou em X reais, então, após o grupamento, teoricamente, o papel iniciará o pregão com um preço equivalente a dez vezes X, ou seja, 10X. Por exemplo, se o preço de fechamento anterior ao grupamento era R$ 0,50, então, o papel iniciará o pregão seguinte valendo R$ 5,00. 

2) Participação acionária

Se um acionista possuía 10N ações da companhia no pregão anterior ao grupamento, então, após o grupamento ele passará a deter N ações. Portanto, um décimo da quantidade de ações se comparado ao dia anterior. Por exemplo, se o investidor possuía 1.000 ações, então, após o evento ele terá 100 ações. Entretanto, caso o investidor tenha um número de ações que não seja múltiplo de 10, então, existe a possibilidade da sua participação acionária, em termos percentuais, diminuir. Ou seja, eventualmente, o investidor poderá ser diluído após o grupamento.   

3) Valor patrimonial da ação  

O valor patrimonial da ação (VPA) será igual a dez vezes o valor anterior ao grupamento. De fato, pois:

Pré-grupamento: VPA = (5 bilhões de reais)/(2 bilhões de ações) = R$ 2,50;

Pós-grupamento: VPA = (5 bilhões de reais)/(200 milhões de ações) = R$ 25,00.

4) Lucro por ação (últimos 12 meses)

O lucro por ação (LPA) dos últimos 12 meses será igual a dez vezes o valor anterior ao grupamento. Com efeito, pois:

Pré-grupamento: LPA = (- 2 bilhões de reais)/(2 bilhões de ações) = – R$ 1,00;

Pós-grupamento: LPA = (- 2 bilhões de reais)/(200 milhões de ações) = – R$ 10,00

Vinte moedas de 10 centavos equivalem a uma nota de 2 reais: eis a ideia do grupamento

Casos recentes de grupamento

Em janeiro de 2023, as ações da resseguradora IRB Brasil (IRBR3) foram agrupadas na razão de 30 para 1, ou seja, a cada 30 ações possuídas antes do grupamento equivaleria a 1 ação após o evento. No entanto, entre 2020 e 2022, a ação IRBR3 desvalorizou aproximadamente 98%. Somente no ano de 2022, as ações ordinárias da resseguradora apresentaram uma variação negativa de aproximadamente 79%. Por outro lado, em 2023, as ações IRBR3 acumulam uma valorização de 92%. 

Recentemente, no dia 15 de dezembro, as ações do Grupo Casas Bahia (BHIA3) passaram a ser negociadas após um grupamento na razão de 25 para 1, ou seja, a cada 25 ações possuídas antes do grupamento equivaleria a 1 ação após o evento. Porém, cabe destacar que desde 2021, as ações da companhia acumulam uma desvalorização de aproximadamente 97%. Apenas em 2023, o ativo BHIA3 já apresenta uma variação negativa de aproximadamente 83%.  

Conclusão     

No intuito de evitar uma maior deterioração no preço da ação e uma possível deslistagem dos índices de referência, algumas companhias efetuam o grupamento de ações, geralmente quando os papéis estão sendo negociados abaixo de 1 real (penny stock). Entretanto, ao contrário do que ocorre no desdobramento de ações, a ideia do grupamento é diminuir a liquidez. Além disso, pretende-se diminuir também a volatilidade e os movimentos especulativos sobre os papéis. 

Porém, conforme já disse Benjamin Graham, precursor do value investing e mentor de Warren Buffett: “No curto prazo, o mercado é uma urna eleitoral, mas, a longo prazo, é uma balança de precisão”. Ou seja, embora o grupamento de ações possa ter possíveis efeitos benéficos para as ações no curto prazo, por outro lado, no longo prazo, o que prevalecerá são os fundamentos da companhia. O mercado não é bobo. Não existe grupamento que seja capaz de transformar um péssimo negócio em um bom negócio. A eficiência e a rentabilidade de uma empresa são soberanos. Portanto, a precificação das ações, cedo ou tarde, refletirão isso.        

Referências

b3.com.br/pt_br/institucional

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