Divergência entre o governo federal e o Banco Central
A principal divergência entre o governo federal e o Banco Central é o nível atual da Selic. Por um lado, o governo federal defende a queda da taxa Selic. Por outro lado, o Banco Central, neste momento, acredita que o ideal é a manutenção da taxa de juros em um patamar elevado. Se você tem interesse por economia, confira o nosso texto e saiba mais a respeito da divergência entre o governo federal e o banco central.
Boa leitura.
O papel do Banco Central
Embora seja uma das instituições mais importantes para a estabilidade econômica do país, pouco se escuta a respeito das funções do Banco Central (BC), exceto nos períodos de definição da taxa Selic que ocorrem a cada 45 dias.
Tendo em vista que eu não sou um economista de formação, tampouco especialista no mercado financeiro, creio que o ideal é apresentar ao leitor os propósitos do BC, conforme descrito no site da instituição. Veja como se segue na íntegra:
Garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, zelar por um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo, e fomentar o bem-estar econômico da sociedade.
Portanto, o controle da inflação é uma das principais atribuições do Banco Central. Nesse sentido, a definição da taxa Selic é a principal ferramenta do BC para controlar a inflação. Dado que a taxa básica de juros é a referência para as taxas de juros praticadas na economia de forma geral, então, as flutuações na Selic têm um impacto direto na expansão ou retração da economia, desde a oferta de crédito até o rendimento das aplicações de renda fixa.
Copom e a taxa Selic
Apesar do papel central no estabelecimento da taxa de juros, a decisão quanto ao nível da Selic é feita de forma colegiada pelos 9 membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, os quais devem votar de forma independente pela manutenção, aumento ou corte na taxa de juros. Deste modo, a decisão da maioria é acatada como sendo a decisão do comitê.
É preciso deixar claro que o presidente do Banco Central por si só não possui autoridade para definir o nível da Selic. Embora esteja no comando do navio, ele não possui autonomia para conduzi-lo apenas com base nos seus conhecimentos e convicções. Isso seria uma loucura.
Por esse motivo, existe um comitê altamente especializado e que apesar dos seus vieses políticos, econômicos e sociais, tem como norte fomentar o bem-estar econômico da sociedade. O Banco Central é uma instituição autônoma e independente que visa os interesses do estado brasileiro e não do governo atual.
Divergência entre o governo federal e o Banco Central
A principal divergência entre o governo federal e o Banco Central é o nível atual da Selic. Nas reuniões dos dias 18 e 19 de junho de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), de forma unânime, decidiu interromper o ciclo de queda de juros e manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano.
Conforme descrito na Ata do Copom – seção que trata da decisão de política monetária – podemos observar as seguintes justificativas do comitê:
o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela (…) a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. (…) eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.
Portanto, a manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano não se deve a um mero capricho dos membros do Copom, mas sim devido à diversos indicadores econômicos e sociais que fundamentam tal decisão.
O governo federal insiste que a taxa de juros deveria ser reduzida e argumenta inclusive que as decisões do BC possuem caráter político e que até mesmo são contrárias ao progresso do país. Porém, isso não me parece fazer sentido algum.
Política fiscal e política monetária
O descontrole dos gastos públicos é um dos motivos que justifica a manutenção da taxa Selic em um patamar elevado. O crescimento do país através de uma política fiscal expansionista poderá se traduzir futuramente no aumento da inflação e na perda do poder de compra do brasileiro.
Já não é de hoje que o governo federal – para financiar a máquina pública – tende a focar no aumento da arrecadação, em vez de reduzir os gastos ou até mesmo ser mais eficiente na gestão destes gastos.
O Brasil é um país extremamente desigual em termos de distribuição de renda e a inflação tende a ser mais perversa justamente com os mais pobres. Portanto, no intuito de frear a nossa política fiscal expansionista e controlar a inflação, é necessário convivermos com uma política monetária contracionista.
O governo federal é como se fosse um motorista que acredita ter mais capacidade de definir o que é o limite de velocidade seguro para uma via do que os próprios técnicos da engenharia de trânsito. O primeiro acredita que o mais importante é chegar no destino o mais rapidamente possível. Já o segundo interpreta que o mais importante é chegar no destino da forma mais segura possível, inclusive considerando a segurança dos outros condutores e pedestres.
Eu prefiro chegar no destino com tranquilidade e segurança para todos. E você?
Bons investimentos.