Alinhamento de interesses entre o acionista e a empresa
Os investidores focados na estratégia de dividendos precisam analisar os fundamentos das companhias. No entanto, não podemos confundir a análise fundamentalista como sendo apenas uma observação superficial dos indicadores fundamentalistas. Ela vai muito além disso. Por exemplo, o alinhamento de interesses entre o acionista e a empresa também deve compor a análise dos fundamentos de uma companhia. Nesse sentido, discutiremos sobre dois eventos corporativos divulgados recentemente na mídia com o intuito de evidenciar a questão do alinhamento de interesses entre o acionista e a empresa.
Itaú Unibanco comprou prédio na Faria Lima por 1,5 bilhão de reais
Conforme matéria publicada no dia 18 de janeiro de 2024 no site Brazil Journal, o Itaú Unibanco (ITUB3; ITUB4) comprou o edifício que abriga a sede do Itaú BBA – braço de investimentos do banco – por aproximadamente 1,5 bilhão de reais. De acordo com a reportagem:
“Segundo a escritura de compra e venda, lavrada no final de dezembro, o banco pagou R$ 1.458.870.160,00 à vista, na maior negociação de um edifício na cidade de São Paulo”.
Primeiramente, podemos supor que o Itaú está com uma posição de caixa bastante confortável, considerando o volume da transação e a forma de pagamento. De fato, uma companhia em péssimas condições financeiras não teria condições de realizar esse tipo de aquisição.
Em segundo lugar, precisamos discutir sobre a necessidade de uma aquisição tão extravagante, dado que os bancos estão cada vez mais digitalizando os seus serviços, reduzindo o número de agências, expandindo o trabalho home office e aplicando recursos de inteligência artificial na resolução de problemas e atendimento aos clientes.
Reflexão sobre o alinhamento de interesses
Embora eu não seja um acionista do Itaú, me colocarei na posição de acionista pessoa física que adquiriu ações com foco no recebimento de dividendos. Certamente a compra do prédio mais caro da história da cidade de São Paulo não seria uma notícia empolgante para mim. Segundo os dados do Status Invest, o dividend yield médio do banco entre 2011 e 2023 ficou em torno de 4,24% ao ano para as ações ordinárias (ITUB3) e 3,73% ao ano para as ações preferenciais (ITUB4).
Afinal, para onde está indo o caixa da empresa? Ao que parece muito pouco está indo para o bolso dos acionistas. O aprendizado que fica pra mim é que uma alta lucratividade de uma empresa não se traduz necessariamente em um excelente retorno em dividendos para o acionista.
Vivo aprovou redução de capital e distribuirá 1,5 bilhão de reais aos acionistas
Para contrapor à extravagância mencionada na seção anterior, segue um fato bastante positivo para os acionistas da Vivo (VIVT3). Segundo fato relevante divulgado pela companhia no dia 24 de janeiro de 2024, foi aprovada a redução do capital social em 1,5 bilhão de reais. Ou seja, a empresa devolverá 1,5 bilhão de reais aos acionistas.
Um primeiro ponto a se destacar é que, por mera coincidência, o valor da redução de capital da Vivo é igual ao valor que foi gasto pelo Itaú na compra do prédio da Faria Lima. No entanto, suponho que os acionistas da Vivo estejam mais empolgados com esta coincidência do que os acionistas do Itaú.
Em segundo lugar, ao longo dos anos a Vivo tem colocado em prática o seu compromisso de gerar valor ao acionista por meio da recompra de ações e distribuição de dividendos. Conforme os dados do site Status Invest, entre 2011 e 2023 o dividend yield médio das ações VIVT3 foi em torno de 6,87% ao ano. Além disso, no site de relações com investidores da Vivo, é possível identificarmos que o histórico do payout da companhia se mantém acima de 75% desde 2011.
Reflexão sobre o alinhamento de interesses
Eu sou um pequeno acionista da Vivo desde junho de 2020 e a minha estratégia é focada no recebimento de dividendos. Portanto, este post se aplica a mim mesmo. Ao me deparar com a notícia sobre a redução de capital, vejo que a empresa coloca em prática o seu discurso sobre a geração de valor para o acionista.
O aprendizado que fica pra mim é que o alinhamento de interesses entre o acionista e a empresa é um ponto importantíssimo na análise de investimentos, se o seu foco é o recebimento de dividendos. Portanto, é preciso ir além dos indicadores fundamentalistas e estudar as características qualitativas do negócio.
Referências
braziljournal.com/o-predio-mais-caro-do-brasil-itau-paga-r-15-bi-pela-propria-sede-na-faria-lima