A cultura da renda fixa no Brasil
A maioria dos investidores brasileiros aplica exclusivamente na renda fixa. Analisando-se apenas a quantidade de CPFs cadastrados na bolsa de valores, observamos que em dezembro de 2023, a quantidade de investidores brasileiros em renda variável (aproximadamente 5 milhões) é pequena se comparada aos aplicadores em renda fixa (aproximadamente 17 milhões) e mais ainda se considerarmos o número médio de brasileiros que estão ocupados (aproximadamente 100,7 milhões de pessoas), conforme os dados da PNAD Contínua de 2023. Mas afinal, quais fatores contribuem para a cultura da renda fixa no Brasil? Pretendemos refletir sobre esta questão no decorrer deste post.
Histórico de juros elevados e o financiamento da máquina pública
Devido à necessidade do controle inflacionário e a manutenção do poder de compra da moeda, o Brasil precisa de uma política monetária mais contracionista, ou seja, uma taxa de juros mais elevada. Por exemplo, os brasileiros já tiveram de lidar com períodos de hiperinflação e desvalorização da moeda.
Além disso, nossa política fiscal é expansionista, ineficiente e pouco confiável: arrecadamos muitos, gastamos mais ainda e convivemos constantemente com um déficit nas contas públicas. Através da renda fixa, o governo consegue dinheiro para financiar a máquina pública. O problema não reside na captação de dinheiro, mas sim na gestão dos recursos. Obras inacabadas e desvios de verbas são apenas dois exemplos dessa má gestão.
Embora seja impopular, uma política monetária mais restritiva, em nossa opinião, é muito mais uma consequência do que uma causa. Isso afeta diretamente a tomada de decisão por parte dos investidores. Com efeito, o histórico de juros elevados conduziu e certamente continuará conduzindo muitos brasileiros para a cultura da renda fixa. Vejamos a seguir a série histórica da taxa Selic entre março de 2014 e março de 2024, conforme divulgado pelo Banco Central do Brasil.
Portanto, não é raro, nós brasileiros, vivenciarmos longos períodos nos quais a taxa Selic está acima de 6% ao ano. Nesse sentido, os investidores brasileiros que desejam um retorno razoável aliado a um risco mínimo, optam por deixar seus valores aplicados em produtos de renda fixa atrelados à Selic, por exemplo, Tesouro Selic, LCI, LCA, CDB, caderneta de poupança, dentre outros.
Falta de educação financeira e a ilusão da aposentadoria estatal
Conforme podemos concluir pelas estatísticas, o número de brasileiros que investem em renda variável é muito pequeno se comparado ao número de brasileiros que aplicam na renda fixa, seja através da B3 ou por meio de instituições financeiras diversas. Em nosso ver, a falta de educação financeira dos brasileiros retroalimenta a cultura da renda fixa no Brasil.
A ausência de conhecimentos básicos sobre finanças pessoais e investimentos faz com que as pessoas não se sintam confiantes para tomar decisões importantes sobre investimentos e assim elas não conseguem se desvencilhar da “camisa de força” da renda fixa. A zona de conforto é nítida e evidente. Nesse sentido, muitos brasileiros e brasileiras preferem investir exclusivamente na renda fixa e aceitar um retorno medíocre do que investir tempo e energia estudando sobre economia, ações e fundos imobiliários. Porém, a combinação apropriada da renda fixa com a renda variável pode trazer excelentes resultados no longo prazo e até mesmo a liberdade financeira.
Além disso, uma grande parte da população acredita que a aposentadoria estatal será suficiente para que ela possa desfrutar da velhice com o mínimo de dignidade e qualidade de vida. Sinto lhe informar que isso é ilusão. Invista agora para não responsabilizar o governo depois. Já sabemos há muito tempo que ele não é capaz de honrar com os seus compromissos quando você mais necessitar. Por exemplo, veja a quantidade de pessoas que estão na fila para realizar pequenas cirurgias através do SUS ou o número de brasileiros que aguardam para se aposentar por meio da Previdência Social.
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